As cidades estão paralisadas. A crise generalizada da mobilidade urbana incita a reflexão acerca dos modais de transporte: são avaliadas eficiência, com medição de tempos de trajetos, poluição gerada, infraestrutura necessária, custos de implantação e operação e os impactos na saúde dos usuários, (…) a partir da poluição, do stress causado pelo trânsito e pelo aumento do sedentarismo (ANTP, 2015; pág.49).
Chegando a um século do modelo de cidade sob a lógica urbana do transporte motorizado, e apresentando problemas seríssimos de mobilidade, congestão no trânsito e muito tempo gasto nos deslocamentos diários, as políticas públicas sofrem uma inversão: passam a desestimular o uso do veículo motorizado privado e buscar a solução no transporte coletivo. Somam-se ainda novas pautas como o incentivo à infraestrutura cicloviária, espaços públicos de qualidade, ruas para pessoas e atividades pedestres; uma mudança que reflete no desenho urbano das cidades, na legislação vigente, na mentalidade social e na vida dos citadinos.
Esta nova visão interfere diretamente na forma de fazer cidade: nos raios da área urbana, no comprimento dos deslocamentos, na configuração espacial das ruas e calçadas e na variedade do uso e ocupação do solo, de forma a encurtar as distâncias percorridas dentro da cidade. Além disso, determina o nível de percepção e vulnerabilidade do espaço público-privado; pois uma vez que se reduz a velocidade do transeunte, como no caso de deslocamentos não motorizados, aumenta sua capacidade de leitura de detalhes do percurso e ele está mais sujeito à dinâmica da rua, seus riscos e benefícios.
O grupo de pesquisa da UFPE foi selecionado para apresentar a contribuição do projeto Parque Capibaribe para a mobilidade a pé
Por meio de uma chamada pública o INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, foi selecionado para apresentar o projeto Parque Capibaribe no Painel Como Anda, que integra o 21º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito. O evento acontece entre os dias 28 e 30 de junho, em São Paulo, reunindo colaboradores de diversas áreas, que contribuem compartilhando ideias, ações, programas de mobilidade urbana e de políticas públicas, na defesa permanente do transporte com qualidade, do trânsito seguro, de cidades sustentáveis e com qualidade de vida, abrigando todas as formas de mobilidade nas cidades brasileiras.
Na ocasião, o INCITI será representado pelo seu coordenador de Engenharia, Djair Falcão, que mostrará a visão elaborada para o projeto, que foge da concepção de “cidades carrocêntricas”. O Parque Capibaribe, desenvolvido através de parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Prefeitura do Recife, irá implementar 30 km de passeios na margem do principal rio da cidade e mais 51 km de melhoria nas vias existentes, com a transformação em alamedas que estimularão a mobilidade a pé.
O Como Anda lançou, em abril, um edital para levar organizações para apresentarem suas iniciativas no Painel e participarem da 1ª Oficina de Capacitação do Como Anda sobre “planejamento estratégico e captação de recursos humanos e financeiros”. Após receber as inscrições, um júri formado por integrantes da equipe Como Anda, da Comissão Técnica de Mobilidade a Pé e Acessibilidade da ANTP e do Instituto Clima e Sociedade se reuniu e deliberou sobre a seleção das organizações. A partir de uma matriz de avaliação, o grupo analisou como os inscritos poderiam contribuir no Painel Como Anda com reflexões e visão do cenário local-nacional, além do potencial multiplicador do aprendizado adquirido.
Além do INCITI, foram selecionadas outras três organizações: Pezito, de Porto Alegre; Caminha Rio, do Rio de Janeiro; e MOB Movimente e Ocupe seu Bairro, de Brasília. Para saber mais sobre o 21º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, acesse: http://21congresso.antp.org.br.
Na última terça-feira, 6 de setembro, aconteceu a primeira vivência coletiva da investigação experimental realizada pelo INCITI/UFPE: A Ciclorrota Sensitiva do Cavouco. A atividade é o primeiro passo da experiência de sensibilização e ativação de uma das infiltrações do Parque Capibaribe, envolvendo o afluente Riacho do Cavouco, cuja nascente está localizada no Campus da UFPE. O ponto chave da investigação é a existência de uma “passagem secreta” urbana, uma travessia de barco entre os bairros da Iputinga e Casa Forte, que já existe há mais de cem anos (!) no mesmo lugar, mas que é quase invisível para a maioria das pessoas que circulam no entorno, sobretudo na margem esquerda, próximo aos bairros de Casa Forte, Poço da Panela e Monteiro.
Mesmo sendo uma passagem “quase invisível”, o fluxo de pessoas que atravessam o rio todos os dias naquele ponto, pagando um real por travessia, garantem a sobrevivência do serviço dos barqueiros, que se revezam entre familiares (pai, irmão e sobrinho) há pelo menos tres gerações. Ao investigar as possibilidades de (re)conexão da cidade com o Capibaribe, emergiu a ideia de que essa conexão “invisível” tem potencial para realizar uma “sinapse urbana”, uma solução de mobilidade criativa conectando o Campus da UFPE com alguns bairros da Zona Norte.
A Praça de Casa Forte foi adotada, então, como ponto de referência, pois está a apenas 5km de distância do Campus da UFPE, se tomarmos um caminho passando por essa travessia de barco. Vale observar que o caminho usado pela maioria das pessoas tem cerca de 8km, enquanto esse outro equivale ao perímetro do próprio Campus da UFPE (dar uma volta ao redor de todo o Campus).
No entanto, como este é um caminho “transversal”, que está fora do mapa mental da maioria das pessoas, dificilmente seria usada como rota cotidiana pelos usuários de bicicleta desta região da cidade. A ideia da investigação é envolver usuários de bicicleta, sobretudo os que vão ao Campus da UFPE, para experimentar esta rota e buscar conhecer sua percepção sobre o espaço urbano antes, durante e depois de realizar o percurso.
Essa investigação experimental busca entender como funciona a percepção socioespacial e as barreiras cognitivas que se formam no mapa mental das pessoas sobre os bairros e vias ao longo deste percurso. Entende-se que são as mesmas barreiras que atribuem certa invisibilidade aos bairros e localidades nesta região da margem direita do Capibaribe.
Quem conhece o caminho para a UFPE que passa por Monsenhor Fabrício, Engenho do Meio e Bom Pastor? E quem passa a conhecer, continuará usando este caminho? O que impede ou motiva as pessoas para adotar este caminho, e integrar o Campus da UFPE como um dos espaços que compõem o Parque Capibaribe? A utilização de novas tecnologias para mapeamento e orientação urbana com dipositivos móveis é capaz de influenciar /incrementar rotas “tranversais” como essa? E se convidarmos as pessoas pra mapear e ilustrar essa rota, isso pode fazer as pessoas aderirem ao caminho?
A atividade do dia 6 de setembro foi a primeira vivência coletiva entre colaboradores do INCITI, quando foram coletadas diferentes impressões sobre a rota e sugestões para elaborar os instrumentos a serem usados na investigação experimental, a ser desenvolvida nas próximas semanas.
A experiência envolve soluções de mobilidade criativa, sensibilização ambiental e instrumentos para integração sócio espacial.