Uso do Jardim do Baobá é tema de reflexão

Espaços públicos trazem a possibilidade de múltiplas trocas e vivências. E o Jardim do Baobá, marco inicial do Parque Capibaribe, situado no bairro das Graças, não foge à regra. Desde que o espaço começou a ser utilizado, ainda em 2016, muitos têm sido os elogios a respeito do ambiente, que abriu uma nova janela para fruição do rio Capibaribe, em meio à cidade. Mas também alguns conflitos vão surgindo quanto ao uso e manutenção do mesmo.

Em uma primeira conversa, moradores e usuários do Jardim do Baobá puderam se conhecer e levantar uma série de necessidades do espaço, tais como cuidado com a vegetação, especialmente com o Baobá, que vem sofrendo com constantes inscrições no seu tronco.

 O INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, grupo de pesquisadores da Universidade de Pernambuco (UFPE), que desenvolve o projeto Parque Capibaribe, através de convênio com a Prefeitura do Recife, viu na situação uma oportunidade para propor o diálogo e convidar à ação aqueles que usufruem do espaço, que está, inclusive, recebendo melhorias na iluminação e na drenagem de águas. 

Segundo o biólogo Leonardo Melo, pesquisador do INCITI, “promover lesões no corpo do baobá é um crime ambiental que pode expô-lo a mais de 100 diferentes tipos de doenças, podendo resultar em dano parcial ou até morte da planta”. Também foram levantados pontos sobre a educação e a conscientização quanto aos possíveis usos e gestão do espaço, desde o cuidado com o recolhimento do lixo ao compartilhamento da mesa de piquenique.

Encontro Amigos do Baobá - 20.05.2017

No último sábado (20), o mesmo grupo foi convidado a participar de uma primeira ação em busca da construção da gestão colaborativa do Jardim do Baobá. “A ideia é pensar o cuidado e o compartilhar do espaço público do Jardim do Baobá. Desde a limpeza, à sinalização, a proteção do Baobá, criar acordos de uso, reunindo todos que usufruem desse espaço público”, disse Djair Falcão, coordenador de Engenharia do INCITI/UFPE.

Encontro Amigos do Baobá - 20.05.2017

A atividade, chamada de reunião dos Amigos do Baobá, levou os participantes a pensarem em sinalizações lúdicas que poderiam ser criadas para o ambiente e colocarem a mão na massa, usando de tintas e madeira. Algumas placas foram criadas, no intuito de ilustrar o ambiente com alguns dos animais que habitam o rio, como a capivara e o caranguejo. A produção também gerou uma lixeira colorida, para chamar a atenção de quem estiver de passagem.

Gerson Thiago, 23, morador de Chão de Estrelas, integrante do coletivo Boca no Trombone e frequentador assíduo do Jardim, convidou os amigos para participarem do encontro e falou da sua impressão sobre a atividade.

“A ação é maravilhosa e muito importante, pois conta com a colaboração de todos e assim não fica pesado pra ninguém. O resultado é bem satisfatório, pois cada dia vemos mais pessoas aderindo ao projeto e à conscientização do movimento, mas ainda falta cultura e pontos de informação num lugar acessível e agradável como o Jardim do Baobá”

Encontro Amigos do Baobá - 20.05.2017

A arquiteta Melina Motta, 25, também aprovou a forma de abordar a gestão e melhoria do espaço público. “O pessoal do grafite ajudou bastante e eles tiveram umas ideias bem lúdicas de como sinalizar o espaço, respeitar a natureza, o baobá em si. Achei massa a ação, me perguntei se todos os espaços do Parque Capibaribe terão esse tipo de aproximação, de trazer as pessoas, perceber como elas se sentem e fazer elas se apropriarem do espaço público, criando uma identidade para para cada trecho do projeto, de acordo com o que as pessoas estão vivenciando lá”.

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José Cleiton Carbonel, 35, integrante do Centro Cultural de Comunicação e Juventude e morador do Totó, também participou dos debates e trabalhos e foi enfático quanto à importância de aproveitar o momento de articulação e diálogo com a sociedade. “Esse é o momento para quebrar o paradigma do uso do espaço público mesmo. Vamos fazer o trabalho passarinho, não é o formiguinha. Vamos voando e fazendo o principal, colocando semente pra florescer. Temos que cultivar isso”, comentou. E ainda complementou, quanto à árvore, símbolo do local: “Mas ainda tem que fazer uma ação impactante pra mostrar como o Baobá tá sendo maltratado pelas ações do pessoal que escreve nele”.

De acordo com o coordenador de Ativação do INCITI, Natan Nigro, a sinalização ainda não foi concluída, o que será feito um novo encontro com os Amigos do Baobá, mas um passo muito importante foi dado. “A gente conseguiu atingir um dos objetivos que foi juntar as pessoas no Jardim para refletir sobre o uso dele. Conseguimos fazer com que moradores do lugar e usuários se comuniquem e experimentem um processo de gestão compartilhada do espaço”, afirmou.